quinta-feira, 24 de abril de 2008

Patinho e Feio

Nascido em uma família humilde entre os diversos estigmas que carregava estava o de ser um tremendo pato, nascido entre outros tão patos quanto ele, filho de um legítimo e juramentado pato e de uma tremenda pata choca. Daí ele percebeu que o resto da vida não seria nada fácil e que tudo estava apenas começando...
Quando tem muito pato junto sempre tem um que acha que pode cantar de galo. O problema é quando parece que o mundo inteiro canta de galo e você começa a pensar que talvez o único pato da história seja você mesmo.
Nosso protagonista percebeu isso desde cedo dentro de sua própria casa. Seus irmãos começaram a ficar distantes sem cerimônias. Sua mãe, seguiu o mesmo rumo, como que para apoiar aqueles fascínoras, aquele pato do pai dele só Deus sabia onde andava, e ele foi ficando de patinho na história... Embora o motivo que a família desse por aí fosse o lance da aparência, rolava no ar o boato de que ele seria um estranho naquele ninho, um filho da pata (de outra, no caso), e, daria pra abafar essa história, não fosse o fato de o resto da vizinhança tratá-lo tão mal quanto os de sua casa.
Um dia ele cansou de tudo. Jogou umas duas mudas de roupa na mochila, abriu a porta e saiu andando... essa a primeira atitude corajosa de sua vida. Não havia porque olhar pra trás.
A sensação de liberdade aumentava à medida que ele conseguia caminhar. Mas isso não ia passar despercebido por ela, a mãe de todos os perdidos, a Dona Rua.
Ela viu aquele garoto andando sem rumo e decidiu que deveria mostrar pra ele quão alto o sapo pula, e, que o gato, apesar de cair sempre em pé, se lasca do mesmo jeito que os outros bichos.
Nisso ela foi sua professora, amante e desertora teve o prazer de humilhá-lo e espezinhá-lo até não sobrar nada do que ele tinha sido.
Nessa onda foi que o moleque sacou uma paradas que estavam evidentes: se ele vivia no meio dos patos, sua vizinha da frente era uma galinha, seu vizinho do lado era um porco e todo mundo fazia de conta que quem comia merda era ele, tinha de ter alguma coisa muito errada nessa história. A grande atitude de pato que ele tinha tomado até então era a de continuar vivendo com aqueles patos. Com a Dona Rua o moleque percebeu que tinham aqueles que o achavam um burro, uma toupeira, uma anta talvez, mas também havia os que o considerassem um cordeiro de tão puro.
Hoje ele ainda não sabe que bicho ele é.
E daí?


Romanus, órum
P.S.: Não, a Dona Rua não foi legal com ele. Nem o é com ninguém. De verdade.

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